domingo, 19 de junho de 2011

Moralidade Climatica - alguns aspectos introdutorios

(computador sem acentos)


O professor John Broome, filosofo e economista, foi indicado para coordenar uma das partes do painel sobre o aquecimento global, da Onu. Ele estara lancando um livro em breve, chamado Moralidade Climatica. Vou tentar apresentar os pontos centrais do livro atraves de um resumo do esboco do livro que ele disponibilizou a algumas pessoas. Antes, porem, neste artigo, apresento a uma visao geral de alguns pontos essenciais no debate sobre o meio ambiente hoje, que se ligam aa minha area de estudos, a etica (Broome, seguindo a tradicao inglesa, a chama de filosofia moral).

* * *

Podemos avaliar a qualidade de uma acao ou de uma regra de acao (uma lei, por exemplo) - se
ela eh "boa" ou "ruim" - com base (1) na evidencia disponivel de suas
consequencias (e para isso precisamos da ciencia) e (2) nos valores envolvidos em
tais fatos (e para isso precisamos da etica). Alguns assuntos sao mais complicados que outros e a ciencia e a etica serao nao soh imprescindiveis, como tambem um pouco mais complicadas do que a moralidade do senso comum e a observacao do bom senso.

O problema ecologico esta no dano que o aquecimento global antropogenico
(influenciado pelas acoes humanas) causa ou causara a pessoas e animais (atuais
e futuros). Em torno disto estarao os fatos ou consequencias de acoes e leis, e para sabermos disto com mais precisao precisamos da ciencia. Eticamente, a moralidade comum prescreve que nao podemos causar danos a terceiros apenas para nos beneficiar, e quando o fazemos, que devemos compensar os que sao prejudicados.

Entao, a moralidade pessoal, neste contexto, esta em evitar ou mitigar o dano que
causamos aas pessoas (atuais e futuras) e animais (atuais e futuros) por causa
da nossa emissao pessoal (prejudicial) de CO2 e outros gases do efeito estufa (como o metano).
Parece que ha duas formas de evitar ou mitigar tais danos: evitando e/ou mitigando a emissao,
ou, coletando do meio ambiente a mesma quantidade que emitimos, de modo que
mesmo que mantenhamos nossa emissao (p.e. usando carro), zeremos o dano ao meio
ambiente da nossa parte.  (p.e. plantando arvores).

Parece que podemos todos consumir menos, consumir menos carne, diminuir gasto de
energia, tentar substituir o tipo de transporte, usar alcool e nao gasolina,
etc. Nao fazer o maximo nao significa que estamos livre para nao fazer nada, e
eu sei que a maioria de nos ja fazemos alguma coisa. Mas isso ainda eh emitir e
causar danos, de modo que precisamo compensar o dano causado (coletando o CO2
emitido ou pagando para que coletem, ou de alguma outra forma). Isso parece causar um dano para nos,
mas podemos ser compensados por isso usufruindo agora algo que ficaria para as geracoes futuras, que, em tese, serao mais ricas do que nos. Assim, nos nao somos prejudicados por evitar emitir gases danosos. (Broome chama de offsetting tal ideia e tecnica)

Parte importante da moralidade pessoal esta em pressionar o governo para que adote
leis e politicas que evitem ou mitiguem o efeito estufa em escala nacional e/ou
internacional, alem de escolher representantes politicos que saibam defender
fundadamente boas propostas. (Mas havera tal especie de politico?)

Abs, Alcino

quinta-feira, 16 de junho de 2011

Três Espiritualidades Mundiais à Disposição: (3) O que é ser cristão?

O que é preciso essencialmente para ser cristão?


Como na islamisno e no judaísmo, dos quais o cristianismo é irmão ou primo, é preciso basicamente (1) amar a Deus Stock photo : Sandwriting - Godsobre todas as coisas, ou seja, professar uma fé em um único Deus Absoluto que está acima de toda a a criação e de qualquer conceito, coisa ou pessoa, e (2) amar ao próximo Stock photo : Poor Laotian Hmong Childrencomo a si mesmo, ou seja, com igual consideração de interesses. Não amar a Deus colocando outro conceito, ou coisa (dinheiro, poder) ou pessoa (o imperador? o esposo?) no seu lugar, e não amar ao próximo como a si próprio, dando preferência a si e aos seus (egoísmo e egocentrismo), é o que se entende como pecado, que nos afastou e nos afasta do Paraíso. Mas podemos retornar e ele (ao Paraíso, que também é chamado no novo testamento de Reino de Deus, que  já começou; ou de "novos céus e nova terra", no fim do livro do Apocalípse) seguindo a Jesus, para os cristãos, o filho de Deus feito homem e o filho do homem feito Deus, tão especial foram sua vida, mensagem e práticas. Depois de jejuar e orar 40 dias no deserto, como o povo hebreu rumo à terra prometida, Jesus realiza sua missão de anunciar a chegada do Reino de Deus a todos, em especial aos pobres, oprimidos e sofredores, como o início de um tempo de partilha e fraternidade (simbolizados na partilha do pão e vinho na eucaristia, que exemplifica - é um sacramento - a prática da doação aos outros) Stock photo : Hands Of Jesus And Communion, entrando em conflito com aqueles que rejeitam esta mensagem, como no caso daqueles que preferem o mundo sem o Reino de Deus (egoístas), daqueles que se beneficiavam da marginalização dos pobres e da discriminação dos pecadores e "outras" nações, dando mais valor às normas do que à vida das pessoas e sua situação concreta (a lei do Sábado; lembrem-se da famosa frase de Jesus: "ela foi feita para os seres humanos, e não os seres humanos para a lei do Sábado", que era realmente pura desobediência à lei; ou à posição de Jesus sobre as moedas romanas no Templo, "expulsas" à força com chicote, e com a mensagem, "devolvam a César o que é dele, e a Deus o que é de Deus) - ou seja, basicamente as autoridades judaicas e romanas -  que assassinam Jesus como criminoso social e político por desetabilizar a religião oficial e seu arranjo com o império. Tal rejeição de Jesus pelos que não aderem ao Reino de Deus é simbolizada pela sexta feira da paixão, no assassinato na cruz. Stock photo : Jesus Mary Statue

Deus, porém, continuou o Pai de Jesus, e o verdeiro Rei do universo, por isso o cristão professa a Ressureição de Jesus três dias após sua morte (simbolizada na páscoa cristã), e a continuidade de sua atividade de implantação do Reino 40 dias após sua ressurreição, e sua ascenção junto a Deus, acima de todos os poderes, deixando a seus discípulos a missão de continuar sua obra. Stock photo : Jesus
O Reino continua crescendo aos poucos, e os cristãos formam o corpo de Jesus no tempo presente, animados pelo seu espírito, que é também o espírito de Deus (temos daí a santíssima trindade em união com a humanidade). O principal meio de encontrar-se com Jesus é através da prática da solidariedade com quem não tem o que comer, o que beber, o que vestir, onde morar, está preso, está doente, ou seja, com o ser humano, e em especial, com o ser humano que sofre. Mas a oração (onde se inclui a oração comunitária, como a missa ou o culto), o jejum (deixar de consumir) e a esmola (a doação de parte dos bens aos pobres) são práticas espirituais para a união mística com Jesus e sua Igreja.

Três Espiritualidades Mundiais à Disposição: (2) O que ser budista?

O que é preciso essencialmente para ser Budista?

Stock photo : Buddhist Zen Temple

Apenas tres coisas: (1) Deixar de fazer o mal; (2) fazer o bem; (3) iluminar-se ou despertar. Não necessariamente um depois do outro, mas um concomitante ao outro. Em todo o caso, não dá para fazer o bem sem se abster de fazer o mal, nem se iluminar, sem fazer o bem. (1) Deixar de fazer o mal é deixar de causar danos aos outros (o que inclui todos os seres senscientes, ou seja, todos os animais, não só os animais humanos) através de ações do corpo, da língua e da mente. Há três ações corporais danosas: tirar a vida (incluindo favorecer que outros tirem a vida a seu pedido); roubar (incluindo ficar com o que não é nosso ou não nos é dado pelo dono); abusar sexualmente de outro (incluindo manipular a afetividade e sexualidade dos outros). Há quatro ações linguísticas danosas: mentir, xingar, caluniar e fofocar (sim, fazer fofoca sobre a vida alheia é um ato danoso a si e aos outros). E há três ações mentais danosas: a inveja, a má vontade e a visão parcial (egoísta e egocentrista) das coisas.(2) Fazer o bem é beneficiar os outros seres sencientes, ser benevolente para com eles, e há cinco modos de fazer isto: sendo generoso e se dispondo a ajudar mais do que o normal, praticando as abstenções morais citadas acima (em (1)) como um modo de vida; sendo respeitoso e tratando a todos com boa educação e igual consideração; servindo os outros; meditando e divulgando a mensagem budista, chamada de dharma.

Stock photo : Meditation

(3) Iluminar-se é despertar a natureza búdica (de Buda) ou essencialmente realizada (feliz) de si mesmo, algo que é inerente a todos, mas que esquecemos ou perdemos no ciclo rotineiro de vida, e para isto precisamos de esforço (tentar meditar na bagunça do nosso dia a dia), concentração (meditar mesmo; assentar a si próprio), e sabedoria (meditação como modo de perceber profundamente a realidade, nossa e do universo). Tal esquecimento e perda de nossa natureza búdica é parecido com a situação de pecado dos monoteístas. A iluminação é parecida com a idéia de salvação dos mesmos. O Paraíso, para o budista, é o Nirvana, estado de paz e tranquilidade perene. O budismo não envolve nenhuma crença em Deus, é mais uma filosofia ou uma psicologia de vida.

quarta-feira, 15 de junho de 2011

Três Espiritualidades Mundiais à Disposição: (1) O que ser islâmico?

O que é preciso essencialmente para ser islâmico?

Stock vector : Islamic theme holy mosque in the starry night, illustration

O Islamismo é uma das três grandes religiões monoteístas "filhas" de Abraão (além dele, há o Judaísmo e o Cristianismo). Todas têm diferenças mas tem também muitas afinidades, especialmente quanto à idéia principal de professar a fé em um só Deus Absoluto, do qual provém o universo e a humanidade, e que está acima de toda a a criação e de qualquer conceito, coisa ou pessoa. Para o muçulmano, como para o judeu e para o cristão, Deus quer que a humanidade viva num Paraíso, mas a humanidade se afsta dele pelo pecado de querer ser igual a Deus. Deus porém se revela misteriosamente para ajudar a humanidade a retomar seu rumo. Para isso há a prática da religião, e para ser muçulmano basta:
Stock photo : Islam  (1) professar para si e para os outros que somente Deus é Deus ("Alá"; só Deus é Absoluto, todo o resto está submetido a ele) e pessoas especiais foram seus profetas(Jesus foi um profeta, para os muçulmanos), especialmente Maomé, que confirmou a mensagem sagrada de Alá;

Stock photo : Islam(2) praticar a oração seis vezes ao dia, ajoelhando-se em direção à cidade sagrada de Meca como sinal de humildade doante do Criador;

Stock photo : Young Islamic woman in traditional clothing(3) praticar o jejum na festa de Ramadã, que consiste em não comer durante o dia por um mês, mas pode-se comer à noite - o jejum é também uma prática espiritual comum e não só às três grandes religiões monoteístas, mas a outras espiritualidades;

Poverty       Poverty
(4) praticar a caridade para com os necessitados doando-lhes direta ou indiretamente (instituições de assistência) parte da renda (em geral 10 por cento, como no dízimo cristão);

Stock vector : Islamic theme holy mosque in the starry night, illustration(5) visitar Meca, a cidade sagrada, uma vez na vida, se tiver recursos e condições para isto. Sim, vejam que (1) é estritamente teológico, e que (2) a (4) são práticas diárias ou anuais pessoais. Islã signfica Reino de Deus.
Islamismo é a submissão ao governo de Deus no mundo e além dele, e a parte central desta submissão é o auxílio aos mais pobres!

quarta-feira, 8 de junho de 2011

Direitos do Animais Não Humanos

Eis alguns trechos de um artigo a ser publicado em uma revista futura e brevemente...
"Em geral aprendemos sobre a ética no uso de outros animaois com filósofos como Peter Singer e Tom Regan, que representam as principais filosofias de defesa de que os animais têm de ser tratados com igual respeito. Peter Singer raciocinou basicamente do seguinte modo: o tratamento que dispensamos atualmente à maioria dos animais revela especismo, que, como o racismo ou o machismo, é fundamentalmente errado (porque não dá igual consideração aos interesses dos animais); por isso, devemos parar com tal tratamento especista, o que contraria frontalmente nossas práticas vigentes, especialmente na indústria da alimentação e da experimentação animal. Tom Regan, por outro lado, raciocinou do seguinte modo: protegemos nossos interesses fundamentais à vida, liberdade e integridade física com os direitos humanos; os outros animais são idênticos a nós nesses interesses básicos, e, por isso, os outros animais também devem ter direitos básicos. Isso também contraria frontalmente nossas práticas vigentes. Esse é o paradigma básico da filosofia da libertação animal." (...)
"Tom Regan também examinou e criticou o especismo. Para ele, a razão fundamental dos direitos humanos não é o fato dos seres humanos serem parte da espécie humana, o que seria uma alegação meramente fatual e similar à alegação de pertença a uma raça ou a um sexo, nada esclarecendo exceto repetir que humanos são humanos. Também não seria o fato de serem racionais (inteligentes), ou de serem pessoas (no sentido técnico do termo), ou mesmo autoconscientes (verem-se a si mesmos como únicos e projetarem-se no futuro), ou quem sabe, usarem uma linguagem. Isso não é verdadeiro no caso dos bebês, de pessoas muito senis, de quem perdeu as capacidades mentais ou nasceu sem elas, além de comatosos persistentes e de pessoas com doenças cerebrais degenerativas. E é a eles em especial que queremos garantir os direitos humanos básicos. Eles têm mesmo esses direitos, escreve Regan. Mas por coerência lógica (situações semelhantes devem ser julgadas de modo semelhante), coerência fatual (os resultados da melhor ciência disponível e da observação comum sobre as semelhanças entre nós e os outros animais), e coerência valorativa (o valor da vida, da integridade física e da liberdade para os seres que se importam com isso por terem uma vida subjetiva, uma unidade psicológica de dentro para fora), por tais coerências, os animais semelhantes a nós também devem ter esses três direitos básicos."
"Há então algo de novo no ar sobre os direitos dos animais, desde as décadas de 70 e 80, como um vírus a se espalhar pelo planeta e que não pode ser facilmente contido. É o movimento pela libertação animal. Em suma, trata-se de aceitar que todos os animais – ao menos todos os mamíferos e aves, e provavelmente os peixes, são iguais. Há duas principais variedades de entendimento desta igualdade: a teoria da igual consideração de interesses dos animais, de Peter Singer e outros utilitaristas, e a teoria da igual proteção dos direitos animais básicos à vida, integridade e liberdade, de Tom Regan e outros teóricos dos direitos."
Bibliografia:
DeGRAZIA, David. Animal Rights. Oxford, Oxford University Press, 2002.
_______. “Back to Animal Ethics”. In: Taking Animals Seriously. Mental Life and Moral Status. Cambridge, Cambridge University Press, 1996.
REGAN, T. Jaulas Vazias: encarando o desafio dos direitos animais. Porto Alegre, Lugano, 2006.
SINGER, Peter. Ética Prática. São Paulo, Martins Fontes, 2002.
NUFFIELD COUNSIL ON BIOETHICS. The ethics of research involving animals. Londres, 2005. (acessível em <www.nuffieldbioethics.org/animal-research>)

Ética no enfrentamento da CoVID-19

Questões éticas difíceis passaram a nos atingir mais frontalmente com  a pandemia da COVID-19. O  NUBET – Núcleo de Bioética e Ética Pública...