segunda-feira, 8 de outubro de 2012

Aula 5 - REPOSIÇÃO - PARTE B - Graduação em Filosofia -


Curso de Ética 1 – 

hand-Out para Racionalismo Não-Descritivista (Prescritivismo Universal)
(HARE, R.M. “Racionalismo”. In: Ética. São Paulo, Martins Fontes, 2003, pp. 173-197)

7.1 Ecletismo Metaético: selecionar (to sort out = “pinçar”) as virtudes das várias teorias metaéticas estudadas seja para uma autoproteção seja para uma construção sólida da própria teoria. Do Naturalismo (N. Objetivístico), aprendemos sobre a importância de estudar a linguagem e dar a devida atenção aos fatos (fatos naturais/sociais). Do Subjetivismo (Naturalismo Subjetivístico) e em certa medida do Emotivismo (E), aprendemos que precisamos incorporar em alguma medida a atitude do falante como parte dos enunciados morais. Do Intuicionismo, que as razões de ação são princípios morais (ele chamava intuições), e que tais razões se contradizem e descrevem parte da vida moral. Do Emotivismo, aprendemos que os enunciados morais não são meramente descritivos, há sempre algo extra que precisa fazer parte da proposta.

7.2 A mistura de quatro ingredientes selecionados quer combinar adequadamente os dois primeiros – estudo da lógica e superveniência, que nos dão recursos para o controle lógico – com os outros dois – contribuição do sujeito e elemento extra - que nos mantém práticos e consistentes com a linguagem ordinária, para gerar uma Lógica Prescritiva. Para não cairmos no relativismo precisamos recusar um tipo descritivo de teste, que é uma ilusão objetivística, e buscar outro tipo de teste que encontramos exatamente no elemento extra da prescritividade, já que todas as culturas estão prescrevendo: o teste consiste, seguindo Kant, em se perguntar diretamente se podemos querer o princípio para todos os casos deste tipo (semelhantes em suas propriedades descritivas), o que equivale a questionar se podemos sinceramente aceitar todas as consequências da adoção de um princípio disponível em nossa cultura ou em outra.

7.3 Tal teste contém então tanto os ingredientes lógicos quanto os ingredientes práticos (emotivos) que selecionamos como verdadeiros nas doutrinas analisadas. Ele disciplina nosso argumento (não podemos defender qualquer coisa, por exemplo) conjugando o querer particular (o que eu quero) com a consistência lógica de prescrever (exigir que se queira) em todas as situações semelhantes (universabilidade). Há dois riscos na interpretação deste teste da contradição na vontade (“não poder querer certas coisas”). Interpretar o teste (“eu ficaria satisfeito em querer em todos os casos etc.”) de modo descritivista ainda (apenas com a lógica; haveria um tipo de impossibilidade lógica). E interpretar o teste de maneira puramente subjetivista/emotivista (o que não posso querer se revelaria sempre numa impossibilidade meramente psicológica, um tipo de insatisfação psicológica realmente existente). [cf. os exemplos de Kant no segundo capítulo da Fundamentação]

7.4 Aqui é hora de frisar a entrada da universabilidade para que a disciplina lógica funcione, ou seja, ela depende de/supõe usarmos a linguagem normativa/avaliativa (a linguagem moral) plenamente, ou seja, de estarmos perguntando e respondendo questões de natureza prescritiva e universal. Mas, como na lógica em geral, podemos (ou muitos de nós podem) decidir não usá-la (amoralismo) ou propositalmente não segui-la (satanismo ou perversidade), ou decidir usá-la parcialmente (shmoralidade). 

Em geral se apresenta objeções como: a objeção “talhando princípios para si mesmo”, e a “justificando qualquer princípio”, que não entendem corretamente a aplicação deste elemento (U).

7.5 Compatibilidade do prescritivismo-universal com os requisitos de uma teoria adequada (cf. capítulo anterior, 6.8 e 6.9)

7.6 O mais próximo dos critérios de verdade é que o significado descritivo presente nos princípios ou mesmo seu uso meramente descritivo tenha referência descritiva/factual, mas eles variam e se modificam por causa do significado avaliativo. Seria melhor abandonar qualquer noção de verdade? Talvez se pudéssemos operar exclusivamente com a lógica e com os fatos o tempo todo: mas não podemos em nosso ambiente social humano realmente existente, ou seja, temos limitações psicológicas e práticas para aplicar os princípios, e desenvolvemos intuições para aplicação imediata e subjetivamente confiante.

7.7 É possível ignorar a prescritividade seja por fraqueza da vontade (“acrático”) seja por má intenção perversa (“satanista”), mas isso torna o conhecimento do certo e errado meramente descritivo, como no nível intuitivo, e o uso do nível crítico é um dos meios de recolocar o papel da prescritividade e das razões de ação (porque atos de um certo tipo são certos etc.). Tal uso prescritivo-universal nos leva a um tipo de utilitarismo (o maior bem ou o bem de todos os membros da sociedade como um todo). O raciocínio moral crítico tem como “grupo controle” o conjunto de casos semelhantes em que papéis são trocados e nós ou as pessoas envolvidas são levadas a imaginar, sentir e pensar como se fossem as vítimas.

7.8 Uma síntese do procedimento: 1- colocar todos os fatos relevantes, especialmente as consequências prováveis e as preferências de todos os afetados/atingidos em vários cursos de ação possíveis (alternativas), e 2 - questionar sobre o que podemos querer ou o que estamos sinceramente preparados para aceitar como consequência da adoção de um princípio universalizável, estando na pele de cada afetado/atingido, com as preferências dele; 3 - condensar tais informações e preceitos de ação em princípios simples para a vida diária ou situações cotidianas (mais prováveis), considerando para tanto a tradição sábia (intuições bem ponderadas), mas com um certo espírito crítico atento à mudanças.


* * * * *

Questões: 

1 - Explique como cada requisito de uma teoria ética adequada é realizado pelo racionalismo de Hare. (em casa)

      -      Por que exatamente usamos a noção de verdade, se a linguagem moral não é estritamente uma linguagem descritiva, mas imperativa? (cf. 7.6)

      3 - Adotando um problema moral qualquer, mostre em geral como se aplica os procedimentos que Hare sintetiza em 7.8. 

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