quinta-feira, 17 de novembro de 2016

Greve na Universidade, 2016.

Em outubro escrevi esta avaliação sobre entrar ou não em greve que, a pedidos de alguns alunos e colegas, coloco aqui.

"Preocupa-me muito ainda, neste momento delicado do país, se entrar em greve agora seria adequado, já que:

[1] ainda não tenho clareza sobre a emenda do teto e disciplina nos gastos públicos federais, nem tenho conhecimento adequado de suas consequências prováveis (não só para nós, educadores, funcionários civis e alunos de universidades - e nossos projetos pessoais e coletivos como grupo de interesse corporativo e organizado -, mas também para outros atores e para o país como um todo, incluindo especialmente os afetados pela recessão, pelo desemprego e pela perda inflacionária, como também, e daí a dificuldade em decidir, dos que dependem no curto prazo da assistência social, do SUS e do ensino público); [2]não tenho convicção de que a greve seja um instrumento eficiente para lidar com isso agora; [3] supondo, todavia que a greve seja boa e eficaz, ainda pode ser que não seja o momento de usá-la, pode ser que a UFU deva esperar um pouco para avaliar o movimento antes de aderir significativamente (a UFU já foi das primeiras a iniciar movimentos assim no passado, movimentos que muitas vezes não "pegavam" e nos deixavam com o ônus de manter uma paralisação sem apoio de outras instituições).

Dados [1], [2] e [3], resolvi não aderir à greve, neste primeiro momento, e quero que os alunos sejam informados, por favor, que manterei meus cursos regularmente.

Quatro pontos complementares relevantes: [4] estou estudando o assunto da PEC do teto nos gastos e espero ter mais clareza e conhecimento adequado proximamente, quem sabe em novembro, mas ainda não apoio nem desaprovo integralmente a medida; simplesmente ainda não formei minha posição com a devida ponderação que o assunto merece (e estou tentando fazer isso de modo não tendencioso, com base em informações e avaliações de apenas um lado do debate, o que porém toma tempo e esforços para fazer; [5] o projeto de lei "escola sem partido" ou de reforma do ensino médio não é suficiente para justificar greve, ainda que eu o desaprove totalmente;  (neste ponto já que há alternativas de ação - como manifestações, mídia escrita e falada, simpósios e conversas individuais - já em curso e bastante promissoras, além de que, neste caso, greve de professores universitários parece reforçar o apelo do projeto para muitas pessoas e políticos (e outro ponto: a principal razão eu entrar em greve, se entrar, é o problema do teto nos gastos, e não este e outros projetos de lei); [6] pessoalmente, uma vez que não sou associado da ADUFU e então, não me vinculei voluntariamente às decisões da associação e da assembleia sindical, em especial em função de desaprovar a ADUFU e ANDES pelos modos autoritários e com manipulação de condução de decisões coletivas da parte destas associações e seus líderes, em particular em matéria de greves, tenho boas razões pessoais para não seguir o movimento grevista sindical da ADUFU e da ANDES agora; assim como [7] desaprovo que o CONSUN ou Administração endosse e promova indiretamente greves por decisões institucionais de calendário e outras administrativas, algo que ofende a liberdade docente e discente sem boas razões (e que não quero que seja usado, no futuro, contra greves. Ou seja: nem contra nem a favor).

[4], [5], [6] e [7] justificam e reforçam a deliberação de, pessoalmente, não aderir à greve neste momento. 

(Não tenho porém, nada a pedir ou aconselhar a vocês, quis só externar minha situação e reflexão no momento. Também não gostaria que me pedissem ou aconselhassem, ou ordenassem, nada sobre isso, ainda que escutarei com atenção aos que quiserem assim o fazer).

Cordialmente,

Prof. Alcino". 

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