sábado, 1 de setembro de 2012

Aula 3 - Curso de Bioética - Identidade e Abordagem Psicológica

Roteiro para Aula, baseado em MacMahan, Jeff. “The Psycological Account”. In: The Ethics of Killing. Oxford, Oxford University Press, 2002, pp. 39-66.

Nesta aula somos informados sobre a abordagem da identidade para a qual somos pessoas no sentido técnico dos filósofos, seres autoconscientes capazes de perceber sua persistência no decurso do tempo.
Podemos (A) analisar primeiro as seções 4.2. e 4.3., sobre quando começamos a existir e quando cessamos de existir, nesta visão, e depois, antes das duas revisões sugeridas por McMahan à filosofia de Parfit, podemos olhar para o esclarecimento conceitual de 4.1. - identidade e preocupação egocêntrica. Já as revisões (4.4. e 4.6.) estão ligadas aos casos dos experimentos de pensamento, presentes em 4.5. e 4.6., e formam a parte (B) da aula. 

Resumo:

4.      The Psycological Account.

4.1  Identity and Egoistic Concern.

Depois de rejeitar as duas das concepções mais aceitas (“alma” e “organismo”) sobre o que realmente somos, MacMahan expõe e avalia a concepção predileta entre boa parte dos filósofos atuais: somos essencialmente seres psicológicos – a continuidade psicológica é o critério da identidade pessoal.

Conectividades psicológicas diretas se dão em relações que contém: memória presente de experiências passadas e vivenciadas; satisfação ou frustração, no presente, de desejos passados, formados no sujeito; e manifestação de crenças, valores, intenções ou traços de caráter, antes e depois: se existem essas formas de conexão entre P1, no tempo 1 (t1) e P2, em t2, então P1 e P2 estão conectados psicologicamente um com o outro, mas tais relações envolvem graus (são matéria de grau) e são intransitivas (P2 pode estar conectado com P3, e disso não se segue que P1 está conectado com P3 também): por isso tais relações não são ainda o critério de identidade pessoal (que é transitiva). Mas a relação de continuidade psicológica, que depende da conexão acima, não é matéria de grau e é transitiva.

A continuidade psicológica não-ramificada (non-branching) é a sustentação de encadeamentos sobrepostos (overlapping chains) de conectividades fortes (strong connectedness): se P1 em T1 e P2 em T2 estão fortemente conectados psicologicamente, e o mesmo é verdade de P2 e P3, P3 e P4, e então Pn em Tn: P1 e Pn estão psicologicamente em linha de continuidade e, e por isso, são idênticos.

A continuidade psicológica é o critério da identidade pessoal: P1 e P2 são a mesma pessoa se P1 é psicologicamente contínuo com P2.

A continuidade psicológica é necessária, mas não suficiente para a identidade: pode haver ramificação: então, mesmo havendo continuidade, não haverá identidade (veja o caso da divisão de P1 em P2 e P3 pelo transplante cerebral de um hemisfério cada).

No caso da divisão (transplante dos hemisférios separados) se sustenta que as seguintes opções não são aceitáveis: (a) que P1 é idêntico a P2 e P3 (pois isso implicaria que P2 e P3 são idênticos, o que não é o caso); (b) que P1 é idêntico a um dos sobreviventes, mas não ao outro (pois não há diferença entre P2 e P3 que justifique a opção; isso vale para a opção: que P1 é ou um ou outro, mas não sabemos qual); (c) que P1 não é nem P2 nem P3, e sim o corpo inconsciente do qual foram removidos os hemisférios (P1 sobrevive no transplante e parece viver ambas as vidas posteriores: suponha que só há P2, por exemplo. Logo, a existência de P3 não pode anular as razões para P1 estar em P2 e se preocupar egocentricamente (como se fosse si mesmo) com P2).

A solução de Parfit: rejeitar a suposição normalmente não questionada de que a identidade pessoal fornece a base para a preocupação egocêntrica sobre o futuro. (Normalmente se pensa que é racional se preocupar egocentricamente sobre o que vai ocorrer com alguém se esse alguém é você mesmo: Parfit nega isso, e P1 está justificado em se preocupar egocentricamente com o futuro de P2 e de P3, mesmo não sendo ambos, P2 e P3. Só não está presente a identidade, todo o resto que é importante (as conexões psicológicas: memórias, desejos, crenças e projetos intencionais) está presente: logo, a identidade não é o que importa, ainda que na prática identidade e preocupação egocêntrica coincidam).

A abordagem psicológica se divide em duas teorias: uma identidade e uma da prudência (preocupação egoística). Conectividades psicológicas e continuidade psicológica (identidade) são as bases da preocupação egoística a primeira relação é questão de grau.

Para Parfit: (a) a identidade não é o que importa (e devemos separar identidade pessoal e teoria da preocupação consigo – egoistic concern); (b) a identidade pessoal é constituída por relações de continuidade psicológica; (c) as relações de unidade prudencial se compõe de conectividade psicológica e continuidade psicológica; e além disso, (d) a melhor interpretação do caso da divisão é que P1 cessa, de um modo especial, de existir (dupla sobrevivência é cessar de existir e ao mesmo tempo não é morte!). MacMahan concorda com (a), mas discorda de (b) e (c).


4.2 Beginning to Exist and Ceasing to Exist.         

“A pessoa cessa de existir quando cessa de ser o caso que haverá alguém existindo no futuro com quem ela será psicologicamente contínua.” (p. 43). (a relação de continuidade psicológica deixa de operar). Isso pode ocorrer na morte cerebral, no estado vegetativo persistente que resulta da destruição dos hemisférios cerebrais [se tal destruição for irreversível, MacMahan pensa que houve a morte da pessoa; mas isso é diferente de morte cerebral, que envolve o conjunto do cérebro e não só o córtex], mas também pode ocorrer em casos menos simples, como na demência progressiva provocada pelo Alzheimer (porém não sabemos contar conexões psicológicas e há algo vago na idéia de grau forte ou fraco de conectividade dentro de uma vida mental).

Há um ponto em que a deterioração significa cessação das capacidades mentais, incluindo a memória, e o cérebro fica incapaz mesmo das formas mais rudimentares de percepção e pensamento: neste ponto a pessoa claramente terá, para a abordagem psicológica, deixado de existir. Mas há um período intermediário em que isso será difícil de estabelecer: não será nem verdadeiro nem falso que a pessoa continua a existir.

Já, começar a existir pode ser visto como o cessar anterior, só que como um espelho invertido: o processo reverso da deterioração, um processo de enriquecimento e complexidade crescente de uma vida mental em desenvolvimento em associação com o desenvolvimento do organismo humano.

Há cadeias sobrepostas de forte concetividade psicológica entre adultos humanos normais e a meninice (early childhood): cada um de nós existe, ao menos, desde essa época. Porém, quanto mais distante no passado, no início da primeira infância (early infancy) e durante a gestação fetal, a conexão é muito fraca. Para esta abordagem nós nunca existimos como um feto senciente ou como um bebê recém-nascido.
           
“Segue que uma criança de dois dias não pode estar fortemente conectada psicologicamente com ela mesma no dia anterior, e que consequentemente não há continuidade psicológica na primeira infância, e que nenhum de nós é psicologicamente contínuo com um bebê recém nascido, e por isso, nenhum de nós é, agora, numericamente o mesmo indivíduo que uma criança recém nascida” (p. 45)

Para Parfit, uma pessoa é um ser que deve ser autoconsciente, consciente de sua identidade e de sua existência continuada temporalmente: sem autoconsciência não haveria como ocorrer a conectividade forte entre alguém consigo mesmo em dado lapso temporal. Assim, se a autoconsciência cessa ou ainda não começou, a pessoa cessou de existir ou ainda não começou.


            4.3. “Pre-persons” and “Post-persons”.

Porém, desde os estágios avançados da gestação e imediatamente após o nascimento há uma vida mental mais ou menos contínua associada com o organismo, há uma certa continuidade de consciência – como uma memória rudimentar (a criança reage diferentemente às música que ela ouviu no útero materno) e vários eventos conscientes gerados todos nas  mesmas área do mesmo cérebro.

Se a abordagem psicológica está correta, este ser consciente presente antes e logo após o nascimento não era “você mesmo” (oneself), que ainda não existia pessoalmente. Quem ele era? O que aconteceu com ele?

R 1: mera série de eventos mentais gerados pelo funcionamento do organismo: só com o aparecimento da pessoa é que haverá um indivíduo distinto do organismo biológico. Porém, é o organismo ele próprio que se torna consciente, sente, percebe, pensa, e assim por diante, de modo que na medida em que se torna mais complexo e rico nesta vida mental, é o organismo que se torna uma pessoa. Se isso procede então ser uma pessoa é uma fase na história do organismo. (pessoa é um nome para o organismo, durante uma certa fase de sua história), mas essa é a teoria anterior, de que somos essencialmente organismos.

R 2: algum tipo de pré-pessoa ou sujeito subpessoal de consciência que começa a existir quando o organismo se torna capaz de sustentar a atividade mental, mas que cessa de existir quando   uma pessoa vem a existir. Porém, essa é uma hipótese extravagante (e uma teoria é menos plausível quanto mais entidades ela inventa para postulá-la).

O mesmo tipo de problema ocorre com a postulação de uma pós-pessoa, um tipo de sujeito subpessoal de consciência que não seria o próprio sujeito anterior (à degeneração do Alzheimer, por ex.): nós teríamos medo e preocupação com “este” ser que aparece após deixarmos de ter vida pessoal, e este medo e preocupação seriam auto-interessados e prudenciais.

Uma alternativa: reducionismo radical: pessoas são apenas palavras para agrupar e categorizar eventos mentais – um item ontologicamente mais fundamental do que pessoa. Mas é difícil aceitar que não somos ontologicamente itens fundamentais do universo, somos menos básicos do que átomos ou eventos mentais esparsos. (cf. Merricks, Objects and persons).

Porém, isso pode ser somente uma confusão entre a abordagem psicológica da preocupação egocêntrica e a abordagem psicológica da identidade pessoal: pode ser que haja sentido racional em se preocupar egocentricamente com outro ser que nós próprios quando há algum tipo de conexão (“quase-memórias”, por ex.) entre ambos e isso justificaria a preocupação, mesmo que, do ponto de vista de identidade tal indivíduo não fosse mais você mesmo (ou ele mesmo). Isso deveria ser tolerado, como no caso da interpretação da divisão.


            4.4. Revisions and a Note on Method.

Se não houver nenhuma conexão entre uma pessoa nos estágios iniciais do Alzheimer e uma pós-pessoa nos estágios finais, a abordagem psicológica implica que não haverá razão prudencial para a primeira se preocupar com a segunda, mesmo que haja prognóstico de intensa dor, mas isso contraria nossa intuição:

“Muitas pessoas pensam que seria razoável para a primeira pessoa temer o                                    sofrimento que a pós-pessoa experimentasse porque elas crêem, ao contrário do que a                 abordagem psicológica diz, que a pessoa e a pós-pessoa seriam o mesmo indivíduo.” (p. 49)

Mesmo se aceitássemos que são pessoas diferentes, ainda há como justificar a preocupação egocêntrica com alguma revisão na teoria do egoistic concern: em alterações em uma pessoa P que vão de P1 a P 50, mesmo se P1 não seja psicologicamente contínua com P 30, ele ainda o é com P 29, e P 29 é com P 30: já que P 29 tem razões para cuidar de P 30 e P 1 tem de se preocupar com P 29, então há alguma conexão entre P 1 e P 30 via P 29. Mas isso traz à tona um outro tipo de conexão, não fortes conexões, mas fracas, que seriam suficientes (achamos isso no caso dos animais que não têm forte conexão psicológica dia após dia, mas sim fracas).

          Revisão 1 = broad psycological continuity, strong or weak.

Pode-se manter a teoria da identidade psicológica forte e rever a teoria da preocupação egocêntrica (de forte para fraca) (basta manter que não é a identidade o que importa e que podemos ser reducionistas sobre a pessoalidade), mas parece que o melhor é mudar a ambas para diminuir a dissonância intelectual e incorporar a melhor abordagem (quando a identidade é ao menos parte da preocupação egocêntrica em casos reais e aceitos intuitivamente; quando nossas crenças intuitivas comuns e nossa metafísica estão operando juntas).

 “Tem sido uma pressuposição de nosso pensamento sobre a identidade pessoal que: quando há base para a preocupação egocêntrica também há identidade”. (p. 52)

MacMahan diz duvidar que existam casos em que não haja identidade e ainda existam bases para a preocupação egoística (prudência): sem tais casos nós devemos esperar que a identidade pessoal e a prudência coincidam na maioria dos casos (exceção à ramificação).

Assim, o teste seria: onde há bases para a identidade pessoal, há bases para a prudência, e vice-versa, onde há base para se preocupar egocentricamente, há identidade pessoal.

Por exemplo, parece irracional estar egocentricamente preocupado com o próprio cadáver: então, não temos base para acreditar que haja identidade entre nós e nosso cadáver (o que contava contra a teoria que somos organismos, já que cadáveres são uma fase do organismo). Já no caso dos bicéfalos, por considerações puramente metafísicas (compatibilidade com um critério de individuação de entidade de um tipo particular), criticávamos a idéia de identidade no organismo (há duas pessoas e um só organismo). Mas um problema é que as teorias da identidade que se ajustam às nossas intuições podem se ajustar mais ou menos bem aos critérios metafísicos (teóricos).

Mas mesmo com uma teoria psicológica revista (broad psycological continuity), pode haver desconexão entre uma pessoa e uma pós-pessoa: este ser consciente como um sujeito isolado seria o que ou quem? Parece que pensamos que há identidade por causa da visão que somos organismos vivos e da crença de que a identidade conta. (Mas vimos que não somos organismo, e que a identidade não é o que importa).

A revisão mais importante é a que pode implicar que o sujeito isolado (pós-pessoa) e a pessoa prévia são os mesmos indivíduos. Para isso parece que precisamos abandonar a visão de que somos essencialmente “pessoas”: podemos deixar de ser pessoas e ainda assim continuar a existir!

           
            4.5. Replication and Egoistic Concern.

Hipótese: Não temos a mesma preocupação egocêntrica por réplicas corporais e psicológicas idênticas, se comparada com a que temos por duplicatas com o mesmo cérebro funcional: logo, o que importa mais não é a continuidade psíquica, mas a continuidade psíquica com o mesmo cérebro.

Caso 1: Teletransportation. 

One enters a “scanning booth” and presses a button. The Scanner records information about the exact states and structural relations of all of thecells in one’s body. This process causes the instantaneous disintegration of one’sbody. The information thus obtained is then transmitted by the speed of light to a “replicating booth” at some distant location where the Replicator instantly creates, out of new matter, an exact, cell-for-cell duplicate of one’s original body. The person who emerges from the replication booth is exactly similar, both physically and psychologically, to oneself as one was when one pressed the button in the scanning booth.

Neste caso: é a réplica o mesmo indivíduo que aquele primeiro escaneado e destruído? Para Parfit, sim e não: se temos uma versão ampla de identidade como continuidade psíquica não-ramificante com qualquer causa, SIM, ela é o mesmo indivíduo (teletransporte é só um modo muito rápido de transporte); se temos uma versão estreita de identidade como continuidade psíquica com sua causa normal – ou seja, a continuidade funcional das áreas relevantes do mesmo cérebro de alguém – então, NÃO, a réplica não é a mesma pessoa. Parfit é indiferente porque o que conta não é a identidade e basta a continuidade psíquica. MacMahan não concorda.

            Vejamos outros casos:

Caso 2 The Suicide Mission
In a time of war, one has been chosen to carry out a militarymission that will involve 
certain death. Although the operation of the Replicator is very expensive and has therefore 
been strictly rationed, one’s superiors have granted one the privilege of having a replica of 
oneself made prior to the mission. They will also allow one to choose, prior to the process 
of replication, whether one will go on the mission oneself or whether the replica will be sent. 
(Because one is a dutiful soldier, one’s replica will be dutiful as well. 
One knows that if ordered, he will go onthe mission.)

Quem escolhemos para a missão, nós ou a réplica? Para Parfit, tanto faz! Mas o que nós realmente escolhemos, e por que?

Caso 3 Multiple Replication. 

Extortionists, having acquired control of a Replicator, have
obtained one’s cellular blueprint via long-distance scanning. They threaten that, unless
one transfers all of one’s wealth to them, they will create multiple replicas of
oneself whom they will then torture and kill.

Pagaríamos todo nosso patrimônio para salvar, por razões egocêntricas, nossas réplicas?

Caso 4 The Nuclear Attack. 

One is an employee at the Pentagon, which has a Replicator capable of transmitting one’s cellular blueprint to a replicating booth in Alaska. One receives confirmation that a nuclear missile, targeted on the Pentagon, has penetrated the country’s defenses and will obliterate the entire area within a minute. That is justenough time to have oneself scanned and for the data to be transmitted to Alaska.

Somos indiferentes ou achamos melhor ter a réplica do que não tê-la?

Segundo McMahan nossa hesitação tem a ver com o que ocorre conosco e não com a réplica! Em todos os casos haverá conexão psicológica forte e continuidade psicológica direta entre o modelo e a réplica, e então tais relações psíquicas e mesmo a continuidade psíquica não é tudo que conta: deve haver algo mais! O que seria?

McMahan sugere que chave está na diferença entre a duplicação (com transplante do mesmo cérebro) e a replicação de duas cópias por teletransporte tradicional (com destruição do primeiro organismo, mas duplicação psicológica exata).

“To repeat: most of us agree that what matters is present in the relation between
the original person and both of his successors in the case of Division; but many of us
do not find a basis for egoistic concern in the relation between the original person and
his replicas in the case of Double Replication. The difference between the cases is
that, in the case of Division, psychological connectedness and continuity are grounded
in the physical and functional continuity of the parts of the brain in which consciousness 
and mental activity are realized; whereas, in Double Replication, psychological connectedness 
andcontinuity have a different cause—namely, the replication of the relevant areas of the brain. 
This difference appears to matter: it seems to make a difference whether psychological connectedness 
and continuity are grounded in the continued existence and functioning of the relevant areas of the same brain.” (p. 59; grifo meu).



            4.6 Psycological Conectedness and Continuity.

Para a abordagem psicológica, tem de haver similaridade qualitativa (caráter fenomenológico apropriado e consequência comportamental apropriada) e dependência causal entre um conteúdo psíquico y e um conteúdo x anterior, para que haja continuidade de um com o outro. Mas como a teoria se estrutura tradicionalmente, o segundo critério é ocioso (se ocorre a similaridade por coincidência, ainda temos as razões para a preocupação egocênctrica).

Caso 5: Unintended Replication. 
A person dies. Immediately thereafter, the operators of a
Replicator program the machine to create a person that they believe would not be a
replica of any actual person. But, by an improbable coincidence, the brain and body
of the person created in the replicating booth are exact cell-for-cell duplicates of the
brain and body of the person who has just died.


Parece que tudo que é necessário é o requerimento da similaridade qualitativa. Porém, se aceitamos que ela é tudo que é necessário “para estados mentais em tempos diferentes formarem uma conexão psicológica, o fenômeno da conexão psicológica entre vidas diferentes será muito extensivo... envolverá um apagamento das fronteiras entre vidas”. (p. 62)

Porém, nós pensamos que a preocupação egoística só é apropriada quando há também a dependência causal e um estado causa o outro do modo correto: além da similaridade qualitativa dos estados mentais (mesmo caráter fenomenológico e mesmas conseqüências comportamentais), tem de haver dependência causal (estados posteriores são causados pelos anteriores) no sentido correto (in the right way):

“...há o tipo correto (the right sort) de dependência causal  somente se há continuidade entre a realização física do primeiro estado (mental) e a realização física do segundo – isto é, somente se os estados são constituídos ou gerados pela mesma região do mesmo cérebro”. (p. 63.

Assim, conectividade psicológica real (que envolve o funcionamento físico do mesmo cérebro físico) e continuidade ampla (que envolve preocupação egoística mesmo sem forte conexão psicológica entre eu e o que restar de mim após minhas conexões fortes estiverem ausentes) se acomodam melhor às nossas intuições sobre o que importa nos casos acima.

Porém, mesmo tais versões da abordagem psicológica parecem não dar a resposta adequada no caso da demência em estado avançado: “All versions of the Psychological Account of Egoistic Concern imply that the person in the early stages of the disease has no grounds for egoistic concern about what happens after that point (and the corresponding versions of the Psychological Account of Identity imply that the person will have ceased to exist by that time). But the person’s brain may continue to generate conscious states even after that point.” (p. 65).

Na literature sobre isso podemos considerer outro experimento de pensamento:

Caso 6: Deprogramming
A mad scientist has developed a device that can erase all of the
features of one’s mental life that are elements in psychological connections—for
example, memories, beliefs, desires, intentions, and so on. The device can also reprogram
one’s brain with an entirely new set of psychological characteristics. The
process of deprogramming and reprogramming does not, moreover, require any interruption
of the flow of consciousness. The scientist announces that he intends to
deprogram one’s brain and then to torture one’s body.


Nós tememos a desprogramação, claro, mas será que tememos também a tortura posterior, e a tememos como sinal de preocupação egocêntrica com a réplica? Se sim, vejam que neste caso não há mais conexões psicológicas diretas, nem nenhum grau de continuidade psicológica ampla, o que pode ocorrer com pacientes em estágios avançados de demência. Talvez precisemos explorar uma outra abordagem que a psicológica. Será a próxima aula.

* * * *
(1) Quando começamos a existir ou deixamos de existir para a abordagem psicológica?
(2) Como Parfit vê o caso da duplicação através do transplante de hemisférios cerebrais (divisão), e que lição ele retira disso para a teoria da identidade?
(3) Explique os casos e dê a sua resposta aos problemas que eles levantam.
(4) Quais as diferenças entre a visão de Parfit e as revisões sugeridas por McMahan, para a abordagem psicológica?
(5) Porque elas não acomodam nossas intuições para os casos do paciente com demência avançada e da desprogramação?
(6) Qual a lição que McMahan sugere retirarmos disto tudo, qual seu ponto central?

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