Nesta aula somos informados sobre a abordagem da identidade para a qual somos pessoas no sentido técnico dos filósofos, seres autoconscientes capazes de perceber sua persistência no decurso do tempo.
Podemos (A) analisar primeiro as seções 4.2. e 4.3., sobre quando começamos a existir e quando cessamos de existir, nesta visão, e depois, antes das duas revisões sugeridas por McMahan à filosofia de Parfit, podemos olhar para o esclarecimento conceitual de 4.1. - identidade e preocupação egocêntrica. Já as revisões (4.4. e 4.6.) estão ligadas aos casos dos experimentos de pensamento, presentes em 4.5. e 4.6., e formam a parte (B) da aula.
Resumo:
4.
The Psycological Account.
4.1 Identity and Egoistic Concern.
4.1 Identity and Egoistic Concern.
Depois
de rejeitar as duas das concepções mais aceitas (“alma” e “organismo”) sobre o
que realmente somos, MacMahan expõe e avalia a concepção predileta entre boa
parte dos filósofos atuais: somos essencialmente seres psicológicos – a
continuidade psicológica é o critério da identidade pessoal.
Conectividades psicológicas diretas se dão em relações que contém: memória presente de experiências passadas e vivenciadas; satisfação ou frustração, no presente, de desejos passados, formados no sujeito; e manifestação de crenças, valores, intenções ou traços de caráter, antes e depois: se existem essas formas de conexão entre P1, no tempo 1 (t1) e P2, em t2, então P1 e P2 estão conectados psicologicamente um com o outro, mas tais relações envolvem graus (são matéria de grau) e são intransitivas (P2 pode estar conectado com P3, e disso não se segue que P1 está conectado com P3 também): por isso tais relações não são ainda o critério de identidade pessoal (que é transitiva). Mas a relação de continuidade psicológica, que depende da conexão acima, não é matéria de grau e é transitiva.
A
continuidade psicológica não-ramificada (non-branching) é a sustentação de encadeamentos sobrepostos (overlapping
chains) de conectividades fortes (strong connectedness): se P1
em T1 e P2 em T2 estão fortemente conectados psicologicamente, e o mesmo é
verdade de P2 e P3, P3 e P4, e então Pn em Tn: P1 e Pn estão psicologicamente em
linha de continuidade e, e por isso, são idênticos.
A continuidade psicológica é o critério da
identidade pessoal: P1 e P2 são a mesma pessoa se P1 é psicologicamente
contínuo com P2.
A
continuidade psicológica é necessária, mas não suficiente para a identidade:
pode haver ramificação: então, mesmo havendo continuidade, não haverá
identidade (veja o caso da divisão de P1 em P2 e P3 pelo transplante cerebral
de um hemisfério cada).
No
caso da divisão (transplante dos hemisférios separados) se sustenta que as
seguintes opções não são aceitáveis: (a) que P1 é idêntico a P2 e P3 (pois isso
implicaria que P2 e P3 são idênticos, o que não é o caso); (b) que P1 é
idêntico a um dos sobreviventes, mas não ao outro (pois não há diferença entre
P2 e P3 que justifique a opção; isso vale para a opção: que P1 é ou um ou outro,
mas não sabemos qual); (c) que P1 não é nem P2 nem P3, e sim o corpo
inconsciente do qual foram removidos os hemisférios (P1 sobrevive no
transplante e parece viver ambas as vidas posteriores: suponha que só há P2,
por exemplo. Logo, a existência de P3 não pode anular as razões para P1 estar
em P2 e se preocupar egocentricamente (como se fosse si mesmo) com P2).
A
solução de Parfit: rejeitar a suposição normalmente não questionada de que a
identidade pessoal fornece a base para a preocupação egocêntrica sobre o
futuro. (Normalmente se pensa que é racional se preocupar egocentricamente
sobre o que vai ocorrer com alguém se esse alguém é você mesmo: Parfit nega
isso, e P1 está justificado em se preocupar egocentricamente com o futuro de P2
e de P3, mesmo não sendo ambos, P2 e P3. Só não está presente a
identidade, todo o resto que é importante (as conexões psicológicas: memórias,
desejos, crenças e projetos intencionais) está presente: logo, a identidade
não é o que importa, ainda que na prática identidade e preocupação
egocêntrica coincidam).
A abordagem psicológica se divide em duas teorias: uma identidade e uma da prudência (preocupação egoística). Conectividades psicológicas e continuidade psicológica (identidade) são as bases da preocupação egoística a primeira relação é questão de grau.
A abordagem psicológica se divide em duas teorias: uma identidade e uma da prudência (preocupação egoística). Conectividades psicológicas e continuidade psicológica (identidade) são as bases da preocupação egoística a primeira relação é questão de grau.
Para
Parfit: (a) a identidade não é o que importa (e devemos separar identidade
pessoal e teoria da preocupação consigo – egoistic concern); (b) a
identidade pessoal é constituída por relações de continuidade psicológica; (c)
as relações de unidade prudencial se compõe de conectividade psicológica e
continuidade psicológica; e além disso, (d) a melhor interpretação do caso da
divisão é que P1 cessa, de um modo especial, de existir (dupla sobrevivência é
cessar de existir e ao mesmo tempo não é morte!). MacMahan concorda com (a),
mas discorda de (b) e (c).
4.2 Beginning to Exist and
Ceasing to Exist.
“A pessoa cessa de existir
quando cessa de ser o caso que haverá alguém existindo no futuro com quem ela
será psicologicamente contínua.” (p. 43). (a relação de continuidade
psicológica deixa de operar). Isso pode ocorrer na morte cerebral, no estado
vegetativo persistente que resulta da destruição dos hemisférios cerebrais [se
tal destruição for irreversível, MacMahan pensa que houve a morte da pessoa;
mas isso é diferente de morte cerebral, que envolve o conjunto do cérebro e não
só o córtex], mas também pode ocorrer em casos menos simples, como na demência
progressiva provocada pelo Alzheimer (porém não sabemos contar conexões
psicológicas e há algo vago na idéia de grau forte ou fraco de conectividade
dentro de uma vida mental).
Há um ponto
em que a deterioração significa cessação das capacidades mentais, incluindo a
memória, e o cérebro fica incapaz mesmo das formas mais rudimentares de
percepção e pensamento: neste ponto a pessoa claramente terá, para a abordagem
psicológica, deixado de existir. Mas há um período intermediário em que isso
será difícil de estabelecer: não será nem verdadeiro nem falso que a pessoa
continua a existir.
Já, começar
a existir pode ser visto como o cessar anterior, só que como um espelho
invertido: o processo reverso da deterioração, um processo de enriquecimento e
complexidade crescente de uma vida mental em desenvolvimento em associação com
o desenvolvimento do organismo humano.
Há cadeias
sobrepostas de forte concetividade psicológica entre adultos humanos normais e
a meninice (early childhood): cada um de nós existe, ao menos, desde essa
época. Porém, quanto mais distante no passado, no início da primeira infância
(early infancy) e durante a gestação fetal, a conexão é muito fraca. Para esta
abordagem nós nunca existimos como um feto senciente ou como um bebê
recém-nascido.
“Segue que uma criança de dois dias não pode estar fortemente conectada psicologicamente com ela mesma no dia anterior, e que consequentemente não há continuidade psicológica na primeira infância, e que nenhum de nós é psicologicamente contínuo com um bebê recém nascido, e por isso, nenhum de nós é, agora, numericamente o mesmo indivíduo que uma criança recém nascida” (p. 45)
Para
Parfit, uma pessoa é um ser que deve ser autoconsciente, consciente de sua
identidade e de sua existência continuada temporalmente: sem autoconsciência
não haveria como ocorrer a conectividade forte entre alguém consigo mesmo em
dado lapso temporal. Assim, se a autoconsciência cessa ou ainda não começou, a
pessoa cessou de existir ou ainda não começou.
4.3. “Pre-persons” and
“Post-persons”.
Porém, desde os estágios
avançados da gestação e imediatamente após o nascimento há uma vida mental mais
ou menos contínua associada com o organismo, há uma certa continuidade de
consciência – como uma memória rudimentar (a criança reage diferentemente às
música que ela ouviu no útero materno) e vários eventos conscientes gerados
todos nas mesmas área do mesmo cérebro.
Se a
abordagem psicológica está correta, este ser consciente presente antes e logo
após o nascimento não era “você mesmo” (oneself), que ainda não existia
pessoalmente. Quem ele era? O que aconteceu com ele?
R 1: mera
série de eventos mentais gerados pelo funcionamento do organismo: só com o
aparecimento da pessoa é que haverá um indivíduo distinto do organismo
biológico. Porém, é o organismo ele próprio que se torna consciente, sente,
percebe, pensa, e assim por diante, de modo que na medida em que se torna mais
complexo e rico nesta vida mental, é o organismo que se torna uma pessoa. Se
isso procede então ser uma pessoa é uma fase na história do
organismo. (pessoa é um nome para o organismo, durante uma certa fase de
sua história), mas essa é a teoria anterior, de que somos essencialmente organismos.
R 2: algum
tipo de pré-pessoa ou sujeito subpessoal de consciência que começa a existir
quando o organismo se torna capaz de sustentar a atividade mental, mas que
cessa de existir quando uma pessoa vem
a existir. Porém, essa é uma hipótese extravagante (e uma teoria é menos
plausível quanto mais entidades ela inventa para postulá-la).
O mesmo
tipo de problema ocorre com a postulação de uma pós-pessoa, um tipo de sujeito
subpessoal de consciência que não seria o próprio sujeito anterior (à
degeneração do Alzheimer, por ex.): nós teríamos medo e preocupação com “este”
ser que aparece após deixarmos de ter vida pessoal, e este medo e preocupação
seriam auto-interessados e prudenciais.
Uma
alternativa: reducionismo radical: pessoas são apenas palavras para agrupar e
categorizar eventos mentais – um item ontologicamente mais fundamental do que
pessoa. Mas é difícil aceitar que não somos ontologicamente itens fundamentais
do universo, somos menos básicos do que átomos ou eventos mentais esparsos. (cf.
Merricks, Objects and persons).
Porém,
isso pode ser somente uma confusão entre a abordagem psicológica da preocupação
egocêntrica e a abordagem psicológica da identidade pessoal: pode ser que haja
sentido racional em se preocupar egocentricamente com outro ser que nós próprios
quando há algum tipo de conexão (“quase-memórias”, por ex.) entre ambos e isso
justificaria a preocupação, mesmo que, do ponto de vista de identidade tal
indivíduo não fosse mais você mesmo (ou ele mesmo). Isso deveria ser tolerado,
como no caso da interpretação da divisão.
4.4. Revisions and a Note on
Method.
Se não houver nenhuma
conexão entre uma pessoa nos estágios iniciais do Alzheimer e uma pós-pessoa
nos estágios finais, a abordagem psicológica implica que não haverá razão
prudencial para a primeira se preocupar com a segunda, mesmo que haja
prognóstico de intensa dor, mas isso contraria nossa intuição:
“Muitas
pessoas pensam que seria razoável para a primeira pessoa temer o sofrimento que a pós-pessoa experimentasse porque elas
crêem, ao contrário do que a abordagem
psicológica diz, que a pessoa e a pós-pessoa seriam o mesmo indivíduo.” (p. 49)
Mesmo se
aceitássemos que são pessoas diferentes, ainda há como justificar a preocupação
egocêntrica com alguma revisão na teoria do egoistic concern: em
alterações em uma pessoa P que vão de P1 a P 50, mesmo se P1 não seja
psicologicamente contínua com P 30, ele ainda o é com P 29, e P 29 é com P 30:
já que P 29 tem razões para cuidar de P 30 e P 1 tem de se preocupar com P 29,
então há alguma conexão entre P 1 e P 30 via P 29. Mas isso traz à tona
um outro tipo de conexão, não fortes conexões, mas fracas, que seriam
suficientes (achamos isso no caso dos animais que não têm forte conexão
psicológica dia após dia, mas sim fracas).
Revisão 1 = broad psycological continuity, strong or weak.
Pode-se manter a teoria da identidade
psicológica forte e rever a teoria da preocupação egocêntrica (de forte para
fraca) (basta manter que não é a identidade o que importa e que podemos ser
reducionistas sobre a pessoalidade), mas parece que o melhor é mudar a ambas
para diminuir a dissonância intelectual e incorporar a melhor abordagem (quando
a identidade é ao menos parte da preocupação egocêntrica em casos reais e
aceitos intuitivamente; quando nossas crenças intuitivas comuns e nossa
metafísica estão operando juntas).
“Tem
sido uma pressuposição de nosso pensamento sobre a identidade pessoal que: quando
há base para a preocupação egocêntrica também há identidade”. (p. 52)
MacMahan
diz duvidar que existam casos em que não haja identidade e ainda existam bases
para a preocupação egoística (prudência): sem tais casos nós devemos esperar
que a identidade pessoal e a prudência coincidam na maioria dos casos (exceção
à ramificação).
Assim, o
teste seria: onde há bases para a identidade pessoal, há bases para a
prudência, e vice-versa, onde há base para se preocupar egocentricamente, há
identidade pessoal.
Por
exemplo, parece irracional estar egocentricamente preocupado com o próprio
cadáver: então, não temos base para acreditar que haja identidade entre nós e
nosso cadáver (o que contava contra a teoria que somos organismos, já que
cadáveres são uma fase do organismo). Já no caso dos bicéfalos, por
considerações puramente metafísicas (compatibilidade com um critério de
individuação de entidade de um tipo particular), criticávamos a idéia de
identidade no organismo (há duas pessoas e um só organismo). Mas um problema é
que as teorias da identidade que se ajustam às nossas intuições podem se
ajustar mais ou menos bem aos critérios metafísicos (teóricos).
Mas mesmo
com uma teoria psicológica revista (broad psycological continuity), pode
haver desconexão entre uma pessoa e uma pós-pessoa: este ser consciente como um
sujeito isolado seria o que ou quem? Parece que pensamos que há identidade por
causa da visão que somos organismos vivos e da crença de que a identidade
conta. (Mas vimos que não somos organismo, e que a identidade não é o que
importa).
A revisão
mais importante é a que pode implicar que o sujeito isolado (pós-pessoa)
e a pessoa prévia são os mesmos indivíduos. Para isso parece que precisamos
abandonar a visão de que somos essencialmente “pessoas”: podemos deixar de ser
pessoas e ainda assim continuar a existir!
4.5. Replication
and Egoistic Concern.
Hipótese: Não
temos a mesma preocupação egocêntrica por réplicas corporais e psicológicas
idênticas, se comparada com a que temos por duplicatas com o mesmo cérebro
funcional: logo, o que importa mais não é a continuidade psíquica, mas a
continuidade psíquica com o mesmo cérebro.
Caso 1: Teletransportation.
One enters a “scanning booth” and presses a button. The Scanner records information about the exact states and structural relations of all of thecells in one’s body. This process causes the instantaneous disintegration of one’sbody. The information thus obtained is then transmitted by the speed of light to a “replicating booth” at some distant location where the Replicator instantly creates, out of new matter, an exact, cell-for-cell duplicate of one’s original body. The person who emerges from the replication booth is exactly similar, both physically and psychologically, to oneself as one was when one pressed the button in the scanning booth.
Neste caso: é a réplica o mesmo indivíduo que aquele primeiro escaneado e destruído? Para Parfit, sim e não: se temos uma versão ampla de identidade como continuidade psíquica não-ramificante com qualquer causa, SIM, ela é o mesmo indivíduo (teletransporte é só um modo muito rápido de transporte); se temos uma versão estreita de identidade como continuidade psíquica com sua causa normal – ou seja, a continuidade funcional das áreas relevantes do mesmo cérebro de alguém – então, NÃO, a réplica não é a mesma pessoa. Parfit é indiferente porque o que conta não é a identidade e basta a continuidade psíquica. MacMahan não concorda.
Caso 1: Teletransportation.
One enters a “scanning booth” and presses a button. The Scanner records information about the exact states and structural relations of all of thecells in one’s body. This process causes the instantaneous disintegration of one’sbody. The information thus obtained is then transmitted by the speed of light to a “replicating booth” at some distant location where the Replicator instantly creates, out of new matter, an exact, cell-for-cell duplicate of one’s original body. The person who emerges from the replication booth is exactly similar, both physically and psychologically, to oneself as one was when one pressed the button in the scanning booth.
Neste caso: é a réplica o mesmo indivíduo que aquele primeiro escaneado e destruído? Para Parfit, sim e não: se temos uma versão ampla de identidade como continuidade psíquica não-ramificante com qualquer causa, SIM, ela é o mesmo indivíduo (teletransporte é só um modo muito rápido de transporte); se temos uma versão estreita de identidade como continuidade psíquica com sua causa normal – ou seja, a continuidade funcional das áreas relevantes do mesmo cérebro de alguém – então, NÃO, a réplica não é a mesma pessoa. Parfit é indiferente porque o que conta não é a identidade e basta a continuidade psíquica. MacMahan não concorda.
Vejamos
outros casos:
Caso
2 The Suicide Mission.
In a time of war, one has been chosen to carry out a militarymission that will involve
certain death. Although the operation of the Replicator is very expensive and has therefore
been strictly rationed, one’s superiors have granted one the privilege of having a replica of
oneself made prior to the mission. They will also allow one to choose, prior to the process
of replication, whether one will go on the mission oneself or whether the replica will be sent.
(Because one is a dutiful soldier, one’s replica will be dutiful as well.
One knows that if ordered, he will go onthe mission.)
Quem escolhemos para a missão, nós ou a réplica? Para Parfit, tanto faz! Mas o que nós realmente escolhemos, e por que?
In a time of war, one has been chosen to carry out a militarymission that will involve
certain death. Although the operation of the Replicator is very expensive and has therefore
been strictly rationed, one’s superiors have granted one the privilege of having a replica of
oneself made prior to the mission. They will also allow one to choose, prior to the process
of replication, whether one will go on the mission oneself or whether the replica will be sent.
(Because one is a dutiful soldier, one’s replica will be dutiful as well.
One knows that if ordered, he will go onthe mission.)
Quem escolhemos para a missão, nós ou a réplica? Para Parfit, tanto faz! Mas o que nós realmente escolhemos, e por que?
Caso 3
Multiple Replication.
Extortionists, having acquired control of a Replicator, have
obtained one’s cellular blueprint via long-distance scanning. They threaten that, unless
one transfers all of one’s wealth to them, they will create multiple replicas of
oneself whom they will then torture and kill.
Pagaríamos todo nosso patrimônio para salvar, por razões egocêntricas, nossas réplicas?
Caso 4 The Nuclear Attack.
One is an employee at the Pentagon, which has a Replicator capable of transmitting one’s cellular blueprint to a replicating booth in Alaska. One receives confirmation that a nuclear missile, targeted on the Pentagon, has penetrated the country’s defenses and will obliterate the entire area within a minute. That is justenough time to have oneself scanned and for the data to be transmitted to Alaska.
Extortionists, having acquired control of a Replicator, have
obtained one’s cellular blueprint via long-distance scanning. They threaten that, unless
one transfers all of one’s wealth to them, they will create multiple replicas of
oneself whom they will then torture and kill.
Pagaríamos todo nosso patrimônio para salvar, por razões egocêntricas, nossas réplicas?
Caso 4 The Nuclear Attack.
One is an employee at the Pentagon, which has a Replicator capable of transmitting one’s cellular blueprint to a replicating booth in Alaska. One receives confirmation that a nuclear missile, targeted on the Pentagon, has penetrated the country’s defenses and will obliterate the entire area within a minute. That is justenough time to have oneself scanned and for the data to be transmitted to Alaska.
Somos indiferentes ou achamos melhor ter a réplica do que não tê-la?
Segundo
McMahan nossa hesitação tem a ver com o que ocorre conosco e não com a réplica!
Em todos os casos haverá conexão psicológica forte e continuidade psicológica direta
entre o modelo e a réplica, e então tais relações psíquicas e mesmo a
continuidade psíquica não é tudo que conta: deve haver algo mais! O que seria?
McMahan sugere
que chave está na diferença entre a duplicação (com transplante do mesmo
cérebro) e a replicação de duas cópias por teletransporte tradicional (com
destruição do primeiro organismo, mas duplicação psicológica exata).
“To repeat: most of us agree that what matters is present in the relation between
the original person and both of his successors in the case of Division; but many of us
do not find a basis for egoistic concern in the relation between the original person and
his replicas in the case of Double Replication. The difference between the cases is
that, in the case of Division, psychological connectedness and continuity are grounded
in the physical and functional continuity of the parts of the brain in which consciousness
and mental activity are realized; whereas, in Double Replication, psychological connectedness
andcontinuity have a different cause—namely, the replication of the relevant areas of the brain.
This difference appears to matter: it seems to make a difference whether psychological connectedness
and continuity are grounded in the continued existence and functioning of the relevant areas of the same brain.” (p. 59; grifo meu).
“To repeat: most of us agree that what matters is present in the relation between
the original person and both of his successors in the case of Division; but many of us
do not find a basis for egoistic concern in the relation between the original person and
his replicas in the case of Double Replication. The difference between the cases is
that, in the case of Division, psychological connectedness and continuity are grounded
in the physical and functional continuity of the parts of the brain in which consciousness
and mental activity are realized; whereas, in Double Replication, psychological connectedness
andcontinuity have a different cause—namely, the replication of the relevant areas of the brain.
This difference appears to matter: it seems to make a difference whether psychological connectedness
and continuity are grounded in the continued existence and functioning of the relevant areas of the same brain.” (p. 59; grifo meu).
4.6 Psycological
Conectedness and Continuity.
Para a abordagem psicológica, tem de haver similaridade qualitativa (caráter fenomenológico apropriado e consequência comportamental apropriada) e dependência causal entre um conteúdo psíquico y e um conteúdo x anterior, para que haja continuidade de um com o outro. Mas como a teoria se estrutura tradicionalmente, o segundo critério é ocioso (se ocorre a similaridade por coincidência, ainda temos as razões para a preocupação egocênctrica).
Caso 5: Unintended Replication.
A person dies. Immediately thereafter, the operators of a
Replicator program the machine to create a person that they believe would not be a
replica of any actual person. But, by an improbable coincidence, the brain and body
of the person created in the replicating booth are exact cell-for-cell duplicates of the
brain and body of the person who has just died.
Parece que tudo que é necessário é o requerimento da similaridade qualitativa. Porém, se aceitamos que ela é tudo que é necessário “para estados mentais em tempos diferentes formarem uma conexão psicológica, o fenômeno da conexão psicológica entre vidas diferentes será muito extensivo... envolverá um apagamento das fronteiras entre vidas”. (p. 62)
Porém, nós pensamos que a preocupação egoística só é apropriada quando há também a dependência causal e um estado causa o outro do modo correto: além da similaridade qualitativa dos estados mentais (mesmo caráter fenomenológico e mesmas conseqüências comportamentais), tem de haver dependência causal (estados posteriores são causados pelos anteriores) no sentido correto (in the right way):
“...há o tipo correto (the right sort) de dependência causal somente se há continuidade entre a realização física do primeiro estado (mental) e a realização física do segundo – isto é, somente se os estados são constituídos ou gerados pela mesma região do mesmo cérebro”. (p. 63.
Assim, conectividade psicológica real (que envolve o funcionamento físico do mesmo cérebro físico) e continuidade ampla (que envolve preocupação egoística mesmo sem forte conexão psicológica entre eu e o que restar de mim após minhas conexões fortes estiverem ausentes) se acomodam melhor às nossas intuições sobre o que importa nos casos acima.
Porém, mesmo tais versões da abordagem psicológica parecem não dar a resposta adequada no caso da demência em estado avançado: “All versions of the Psychological Account of Egoistic Concern imply that the person in the early stages of the disease has no grounds for egoistic concern about what happens after that point (and the corresponding versions of the Psychological Account of Identity imply that the person will have ceased to exist by that time). But the person’s brain may continue to generate conscious states even after that point.” (p. 65).
Na literature sobre isso podemos considerer outro experimento de pensamento:
Caso 6: Deprogramming.
A mad scientist has developed a device that can erase all of the
features of one’s mental life that are elements in psychological connections—for
example, memories, beliefs, desires, intentions, and so on. The device can also reprogram
one’s brain with an entirely new set of psychological characteristics. The
process of deprogramming and reprogramming does not, moreover, require any interruption
of the flow of consciousness. The scientist announces that he intends to
deprogram one’s brain and then to torture one’s body.
Nós tememos a desprogramação, claro, mas será que tememos também a tortura posterior, e a tememos como sinal de preocupação egocêntrica com a réplica? Se sim, vejam que neste caso não há mais conexões psicológicas diretas, nem nenhum grau de continuidade psicológica ampla, o que pode ocorrer com pacientes em estágios avançados de demência. Talvez precisemos explorar uma outra abordagem que a psicológica. Será a próxima aula.
* * * *
(1) Quando começamos a existir ou deixamos de existir para a abordagem psicológica?
(2) Como Parfit vê o caso da duplicação através do transplante de hemisférios cerebrais (divisão), e que lição ele retira disso para a teoria da identidade?
(3) Explique os casos e dê a sua resposta aos problemas que eles levantam.
(4) Quais as diferenças entre a visão de Parfit e as revisões sugeridas por McMahan, para a abordagem psicológica?
(5) Porque elas não acomodam nossas intuições para os casos do paciente com demência avançada e da desprogramação?
(6) Qual a lição que McMahan sugere retirarmos disto tudo, qual seu ponto central?
Para a abordagem psicológica, tem de haver similaridade qualitativa (caráter fenomenológico apropriado e consequência comportamental apropriada) e dependência causal entre um conteúdo psíquico y e um conteúdo x anterior, para que haja continuidade de um com o outro. Mas como a teoria se estrutura tradicionalmente, o segundo critério é ocioso (se ocorre a similaridade por coincidência, ainda temos as razões para a preocupação egocênctrica).
Caso 5: Unintended Replication.
A person dies. Immediately thereafter, the operators of a
Replicator program the machine to create a person that they believe would not be a
replica of any actual person. But, by an improbable coincidence, the brain and body
of the person created in the replicating booth are exact cell-for-cell duplicates of the
brain and body of the person who has just died.
Parece que tudo que é necessário é o requerimento da similaridade qualitativa. Porém, se aceitamos que ela é tudo que é necessário “para estados mentais em tempos diferentes formarem uma conexão psicológica, o fenômeno da conexão psicológica entre vidas diferentes será muito extensivo... envolverá um apagamento das fronteiras entre vidas”. (p. 62)
Porém, nós pensamos que a preocupação egoística só é apropriada quando há também a dependência causal e um estado causa o outro do modo correto: além da similaridade qualitativa dos estados mentais (mesmo caráter fenomenológico e mesmas conseqüências comportamentais), tem de haver dependência causal (estados posteriores são causados pelos anteriores) no sentido correto (in the right way):
“...há o tipo correto (the right sort) de dependência causal somente se há continuidade entre a realização física do primeiro estado (mental) e a realização física do segundo – isto é, somente se os estados são constituídos ou gerados pela mesma região do mesmo cérebro”. (p. 63.
Assim, conectividade psicológica real (que envolve o funcionamento físico do mesmo cérebro físico) e continuidade ampla (que envolve preocupação egoística mesmo sem forte conexão psicológica entre eu e o que restar de mim após minhas conexões fortes estiverem ausentes) se acomodam melhor às nossas intuições sobre o que importa nos casos acima.
Porém, mesmo tais versões da abordagem psicológica parecem não dar a resposta adequada no caso da demência em estado avançado: “All versions of the Psychological Account of Egoistic Concern imply that the person in the early stages of the disease has no grounds for egoistic concern about what happens after that point (and the corresponding versions of the Psychological Account of Identity imply that the person will have ceased to exist by that time). But the person’s brain may continue to generate conscious states even after that point.” (p. 65).
Na literature sobre isso podemos considerer outro experimento de pensamento:
Caso 6: Deprogramming.
A mad scientist has developed a device that can erase all of the
features of one’s mental life that are elements in psychological connections—for
example, memories, beliefs, desires, intentions, and so on. The device can also reprogram
one’s brain with an entirely new set of psychological characteristics. The
process of deprogramming and reprogramming does not, moreover, require any interruption
of the flow of consciousness. The scientist announces that he intends to
deprogram one’s brain and then to torture one’s body.
Nós tememos a desprogramação, claro, mas será que tememos também a tortura posterior, e a tememos como sinal de preocupação egocêntrica com a réplica? Se sim, vejam que neste caso não há mais conexões psicológicas diretas, nem nenhum grau de continuidade psicológica ampla, o que pode ocorrer com pacientes em estágios avançados de demência. Talvez precisemos explorar uma outra abordagem que a psicológica. Será a próxima aula.
* * * *
(1) Quando começamos a existir ou deixamos de existir para a abordagem psicológica?
(2) Como Parfit vê o caso da duplicação através do transplante de hemisférios cerebrais (divisão), e que lição ele retira disso para a teoria da identidade?
(3) Explique os casos e dê a sua resposta aos problemas que eles levantam.
(4) Quais as diferenças entre a visão de Parfit e as revisões sugeridas por McMahan, para a abordagem psicológica?
(5) Porque elas não acomodam nossas intuições para os casos do paciente com demência avançada e da desprogramação?
(6) Qual a lição que McMahan sugere retirarmos disto tudo, qual seu ponto central?
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