domingo, 26 de dezembro de 2010

Deus Caritas Est

Em época de Natal (uma festa "cristã" religiosa) e na semana antes da festa de Ano Novo (uma festa "pagã" secular) costumo ler e meditar sobre um texto religioso. Vou compartilhar minhas reflexões neste blog, apesar de ser dedicado especialmente à ética, e não à religião. Ainda sou religioso, apesar de flertar bastante com o humanismo e ateísmo secularistas, mas como religioso prefiro adotar um tipo de kantismo, ou seja, de redução da religião à moralidade (e da teologia à antropologia ou psicologia - Feurbach), o que para mim explica e jusitifica postar escritos sobre religião num blog para tratar de ética.

Neste ano, exatamente porque me reaproximei do cristianismo católico, minha antiga tradição espiritual, escolhi ler a encíclica Deus Caristas Est (Deus é Amor), do Papa bento XVI. Netsa semana postarei minhas imprssões e críticas.

Um primeiro comentário:

li a encíclica e posso dizer que no geral gostei bastante, é interessante encontrar um texto em que a idéia central do cristianismo, o amor a Deus e ao  próximo, é bem apresentada junto com outras idéias básicas do catecismo "antigo" (criação, história da salvação, cruz e ressurreição, fé bíblica, tradição da
igreja, liturgia, catequese e caridade). Há tempos venho lido sobre outras tradições espirituais em textos que se atém ao essencial delas (como no Budismo), que nem imaginava mais tal resumo do essencial em minha própria tradição! Mas me chama a atenção como tal catecismo "antigo" vem apresentado
"contemporaneamente" num quadro de claro diálogo filosófico com a razão e a ciência: em quase nenhuma parte encontro uma espécie de religiosidade ingênua (em todo o texto Deus, seu silêncio, e o mistério do mal/sofrimento no mundo, que são os principais argumentos contra a fé religiosa, assim como uma suposta
alienação sexual e social promovidas pela tradição cristã e eclesial, q é um poderoso argumento contra o cristianismo em particular - pois bem, em todo o texto há um tipo de articulação que não nega que haja alguma verdade nestas objeções mas que apresenta os conteúdos religiosos como resposta também moderna e contemporânea a estas objeções! Por exemplo, não se nega que o "silêncio" de
Deus seja um problema para o ser humano, ao contrário, sugere-se que podemos ser
como Job, que reclamava disto, ou como Cristo na cruz clamando "por que me abandonastes?", - o que é bem mais palatável à cultura filosófica moderna do que tentar mostrar que Deus se manifesta realmente, fala conosco, faz milagres, etc - mas por outro lado, se apresenta a própria existência do mundo (a criação) e a
experiência cristã como revelações ou sinais de um tipo de conhecimento (indireto?) de Deus e como abertura para um tipo de transcendência que pode tanto explicar melhor a criação quanto apoiar psicologicamente os seres humanos "ansiosos" por algo mais - o que é palatável também às pessoas religiosas que buscam apoio na religião. Interessante que o texto é bem mais palatável ao
primeiro grupo - os modernos - do que ao segundo - os religiosos tradicionais, o que mostra que o autor não sucumbiu ao populismo religioso e espiritual em voga.

Apesar desta primeira imprssão positiva, há vários aspectos críticos a discutir, o que farei oportunamente.

Abs,

Alcino Eduardo Bonella

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