Contra o ceticismo ético: a infabilidade moral.
Muitas
vezes confundimos a moralidade convencional, que tem afinidades com o
direito (conjunto de leis de um certo país), com a moralidade objetiva
(os padrões morais do certo e do errado), porém, faz todo sentido
pensarmos que a moralidade
convencional pode se enganar porque as visões morais dos indivíduos e
sociedades
podem estar erradas. Suponha o caso da escravidão ou da discriminação
das
mulheres.
Há
ao menos duas interpretações para o erro ao endossar coisas tão feias,
digo, tão ruins: a teoria do
erro (Mackie), para quem toda visão moral está sempre errada, apesar de
ter a intenção de representar o que seria certo objetivamente, e a
teoria objetivista (do Shafer-Landau mesmo, por exemplo), para quem há
um padrão ou normas do que é certo e errado que é independente das
crenças vigentes, e que
serve, por isso mesmo, para julgarmos o nosso possível erro, ou o
possível erro de quem quer que seja.
"De acordo com a teoria do erro, cada elemento da moralidade convencional está equivocado. Assim,
Mas do mesmo modo são FALSAS as visões morais do santo, do que defende a liberdade e do benfeitor
anônimo. Nada bom!"
Dá
para entender qual o problema de um meio termo, que diga que há um
padrão do certo e do errado que realmente funciona ou é adequado,
reecusando então a teoria do erro: no subjetivismo, a escravidão até
pode ser errada, mas para isso a pessoa que julga tem de aceitar isso,
se ela acha diferente, ela deixa de ser errada. O mesmo com o
relativismo social: as posições morais não são todas equivocadas, como
diz a teoria do erro, mas para que o certo ou o errado exista, as
sociedades tem de produzir normas sociais e uma delas é a proibição da
escravidão. Aqui o problema: os escravocratas em sua imensa maioria para
não dizer todos, serão indivíduos ou formarão uma sociedade em que a
escravidão é um bem e não um mau, certa e não errada, mas é um tanto
óbvio que se há algo que seja ruim e errado moralmente, ao menos para
nossa consciência e cultura atual, é a escravidão de outros seres
humanos. Deve haver algo de errado com estas teorias todas, e
Shafer-Landau sugere que o erro é descartarem rapidamente a
interpretação objetivista.
"Quando nós reivindicamos, por exemplo, que aqueles que rebaixam as mulheres a cidadãs de segunda
classe estão agindo erradamente, não queremos dizer que aqueles que favorecem a igualdade também
estão agindo mal. Pelo contrário. Nossas suposição básica é que equívocos morais podem e devem
ser corrigidos". (p. 16)
Vejam
os dois tipos de críticas que uma moralidade convencional está sujeita:
A
crítica interna, que se baseia nos fundamentos da moral convencional em
questão, e detecta alguma inconsistência ou dissonância entre os valores internamente presentes, e a externa, que questiona também as
suposições fundamentais de uma cultura
Shafer-Landau sugere que só
o Objetivismo pode interpretar adequadamente a crítica externa e dar-lhe o devido suporte, mas não o Ceticismo.
Por que? Porque se rejeitamos o Objetivismo, então nossas visões morais estarão sempre
certas, sejam quais foram. Se a moralidade convencional é tudo que há, então um
nazista consistente (como
aquele que aceita tranquilamente ir para a câmara de gás quando
descobre que sua família de fato é judia - você já encontrou um assim?)
ou um terrorista racional (que aceita que sua causa seja destruída se
lhe provam que ela está contra os objetivos dela mesma - você também
encontra muito desta espécie por aí?) serão virtuosos, sem falha
moral. O
Subjetivismo e o Relativismo Social, que vêem a
moral como empreendimento puramente convencional, acarretam um tipo de
INFABILIDADE MORAL dos indivíduos ou sociedades. Mas isso é bastante
arrogante, sem suporte lógico suficiente, e moralmente problemático. O
Objetivista tem uma outra estória para contar:
"O outro diagnóstico do erro moral fundamental é dado pelo objetivista ético. Se mesmo as mais
profundas convicções de indivíduos dos indivíduos ou das sociedades podem estar erradas, então,
tanto quanto exista qualquer verdade moral, deve existir algum padrão, que seja independente destas
convicções, e que existem para desafiá-las como erros." (p. 16)
Fontes:
SHAFER-LANDAU, Russ. Whatever Happened to Good and Evil? Oxford, Oxford University Press, 2004.
Bíblia de Jerusalém, São Paulo, Paulus, 2002.
Fontes:
SHAFER-LANDAU, Russ. Whatever Happened to Good and Evil? Oxford, Oxford University Press, 2004.
Bíblia de Jerusalém, São Paulo, Paulus, 2002.
* * * * * *
1 - Explique as quatro interpretações do erro moral de apoiar a escravidão ou a discriminação das mulheres.
2 - Você vê algum jeito de defender a teoria do erro, o subjetivismo e o relativismo? Como seria?
3 - Você vê algum modo de rejeitar o objetivismo?
4 - Aplique as respostas 2 e 3 aos exemplos dados no texto.
5
- Por que será que o apóstolo Paulo escreveu na Bíblia: "Escravos,
sejam submissos aos seus senhores", e "mulheres, sejam submissas a seus
maridos"? Ele apoiava a escravidão e a discriminação das mulheres? (Ele
também escreveu que no mundo novo do reino de deus, "não há mais escravo
nem livre, homem nem mulher", escreveu uma carta pedindo a um senhor
que recebesse bem a seu escravo fugitivo, e "não como escravo, mas como
um irmão", e foi perseguido pelas autoridades de sua sociedade por lutar
contra a discriminação dos "pagãos" - "não há mais gentio ou judeu").
Muito bom... vou definitivamente seguir.
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