Cap.
7 – Tolerância
A maioria dos estudantes do ensino superior pensam que a posição padrão
na filosofia moral de hoje é o ceticismo ético, mas não pensa assim por causa de um argumento sólido, mas em
grande parte porque é estranho pensar que juízos morais poderiam ser objetivos.
Mas entre os argumentos endossados, está é o argumento a partir da tolerância.
Uma primeira versão porém parte do próprio ceticismo (1): Se o ceticismo é
verdadeiro então devemos ser tolerantes com todas as visões morais; ora, o ceticismo é verdadeiro; logo,
devemos ser tolerantes com todas as visões morais.
Porém, (i) este argumento assume como verdadeiro algo que precisaria ser demonstrado,
que o o ceticismo ético é verdadeiro. Assim, ele não é um argumento em
prol do
ceticismo, mas a partir dele, e não mostra por exemplo, que o ceticismo é
o único candidato compatível com a tolerância. (Imagine substituir
ceticismo por objetivismo, o argumento também funciona, ao menos se
entre os juízos que não dependem da nossa opinião ou do consenso social,
estiver um que diga que devemos ser tolerantes).
(2) Uma outra versão, mais forte, do argumento é: quem adota
a tolerância deve ser eticamente cético; nós devemos adotar a tolerância; logo, devemos
ser céticos. Uma variação: Se o objetivismo fosse verdadeiro, algumas
visões seriam inferiores a outras e estaria ok tratá-las assim; isso contraria a tolerância; logo, o
objetivismo não adota nem defende a tolerância.
Tudo isso porém é um equívoco, pois não se pode concluir, da ideia de que algumas visões são moralmente ruins ou inferiores, que está
tudo bem em tratá-las como inferiores (isso é um non sequitur!). Por que? Porque confundem-se aqui
duas perguntas diferentes. A primeira, uma visão moral de alguém
ou de uma sociedade é correta (ou justa, ou adequada, ou boa)? A
segunda, se ela não o é for, o que devemos fazer a respeito? (Defender
que a mutilação de meninas é errada não implica endossar o envio dos
marines americanos para que invadam os países em que isso está
ocorrendo!)
O objetivismo ético está comprometido
apenas com a tese de que o certo e o errado não dependem exclusivamente de
nossos gostos individuais ou de nossas tradições sociais e arranjos sociais.
Mas com isso, os objetivistas podem embasar muito fortemente a tolerância, por exemplo, como um valor objetivo independente.
Mas há mais coisa: o ceticismo ético é incompatível com a
tolerância, se bem compreendido: p. 32 # 1: Se o ceticismo está certo, então
nenhuma recomendação moral é verdadeira (nihilismo), ou independente dos gostos
individuais (subjetivismo) ou coletivos (relativismo); logo, a recomendação de
tolerar ou é uma ficção (N), ou é uma das opiniões contingentes nossas ou de nossas sociedades. Mas isso
não será uma boa notícia para quem realmente valoriza a tolerância, por exemplo, luta por ela em lugares onde ela não existe.
Se
toda recomendação é falsa (teoria do erro), aquela que diz para tolerar
também é falsa, e está ao par com a recomendação de ser intolerante; se
o certo e o errado estão nos olhos de quem vê, quem
vê a intolerância como certa não estará fazendo nada de errado, ao
contrário, estará inclusive fazendo
seu dever; e se adotamos o relativismo social, a tolerância só será
valiosa nas
sociedades que a tornaram um valor fundamental, mas não naquelas que
reprimem,
perseguem, queimam livros de opositores (e opositores). Numa sociedade
intolerante, você deve
ser intolerante para cumprir seu dever, caso o relativismo seja
verdadeiro.
Os céticos em geral consideram a tolerância algo bom,
mas só o objetivismo dá embasamento seguro a tal valor. Por que? Porque a tolerância
não dependerá apenas do gosto individual ou do consenso social, e caso o indivíduo ou
sociedade sejam intolerantes, pior para eles, pois estarão errados moralmente.
É melhor abandonar a ideia de que o certo e o errado dependem, como palavra
final, do indivíduo ou da sociedade, concluir Shafer-Landau.
"Se você acredita que todos são
detentores do direito ao respeito, a certa parcela de liberdade
pessoal, e a um conjunto básico de direitos humanos, então seria melhor
você abandonar a ideia de que os indivíduos ou sociedades detêm a
palavra final na ética. O objetivismo pode confiantemente sustentar
essas proteções morais centrais. O ceticismo não pode". (p. 33)
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